sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Missa da Rosário dos Pretos


Toda terça-feira acontece na Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos uma missa em homenagem a Santo Antônio de Categeró. A missa é promovida pela Irmandade dos Homens Pretos e é uma das mais freqüentadas, inclusive por baianos não devotos e por turistas.

A Irmandade dos Homens Pretos, da qual surgiu a Igreja do Rosário dos Pretos, foi criada por negros escravos, durante o período colonial, quando os “homens de cor” eram proibidos de assistirem aos cultos nas igrejas dos brancos. Em 1685 os negros começaram a se reunir em uma Irmandade, com apoio de jesuítas, e em 1704 conseguiram a doação de um terreno, pelo rei de Portugal para que criassem um espaço de culto católico destinado aos negros. Quando finalmente foi construída a Igreja (feita completamente pelos escravos), a intenção era que o padroeiro fosse Santo Antonio de Categeró, mas na época o Santo ainda não havia sido canonizado, e então foi consagrada como patrona a Nossa Senhora do Rosário.

Tanto a Igreja como a Irmandade tornaram-se símbolos de resistência da cultura africana e de manutenção da identidade negra. Na missa realizada às terças pode ser vista a conjugação da liturgia com a tradição afro. O ritual católico adquire ritmo, jeito e forma diferentes. Instrumentos musicais de origem africana, tais como timbal, atabaque e agogô, são utilizados em conjunto com o coral da igreja. Os cânticos entoados passam também a falar sobre a situação do negro e a apropriar palavras de línguas africanas em suas letras.

Próximo ao fim da missa entram devotos carregando cestas de pães (primeiro mulheres e depois homens), recebidas pelo padre e colocadas no altar para que os pães sejam benzidos. Em seguida os pães são distribuídos entre os devotos, ao mesmo tempo em que são passados o incenso, a bênção do padre com água benta e o dízimo. Como afirma o Padre Joseval:

Os pães têm uma ligação com o Santo Antonio, o mesmo Santo celebrado às terças na Igreja de São Francisco, também com o ritual de distribuição de pães. Santo Antonio era muito amigo e solidário com os pobres, então ele distribuía os pães, e tanto lá na Igreja de São Francisco, como na Rosário dos Pretos, a distribuição de pães é um símbolo para mostrar nosso desejo de viver em uma sociedade na qual todos tenham o pão, não só o pão material, mas o pão da cultura, da saúde, da educação, mas, sobretudo o pão do arroz, do feijão e do açúcar que é o básico para a sobrevivência humana.

A iniciativa em celebrar um culto a Santo Antonio de Categeró toda terça-feira e utilizando os mesmos instrumentos que são tocados no candomblé foi do Padre Alfredo, que foi responsável foi do Padre Alfredo, que foi responslmais eja. strumentos musicais de origem africana, tais como timbal, atabaque e agogo pela Igreja do Rosário dos Pretos na década de 1980. Desde então a missa se tornou tradição, sobretudo para moradores do Centro Histórico e arredores, muitos devotos do Santo negro.
.: Foto: Márcio Lima

domingo, 10 de agosto de 2008

Buraco Doce


No Centro Histórico dos anos 1930 estavam os principais equipamentos da cidade - instituições de ensino, culturais, do poder legislativo e executivo. O Pelourinho era espaço também de diferentes convívios, comércio e, especialmente, de boemia. É nesta época que começam a surgir os cabarés e prostíbulos da cidade.
O Buraco Doce era um prostíbulo diferente dos demais que havia no Pelourinho na década de 30. Era neste lugar onde trabalhavam as mulheres mais liberadas e desprovidas de qualquer preconceito sexual para a época. Localizado no Maciel de Baixo, zona de prostituição mais popular, o cabaré era freqüentado por homens e mulheres e, segundo indica o autor Anisio Felix, funcionou regularmente até a década de 1980.
Curiosidades guardadas neste cabaré são que o imóvel era de propriedade da Santa Casa de Misericórdia e que a mulher de roxo trabalhou durante alguns anos lá.

sábado, 2 de agosto de 2008

Gerônimo


"Só uma pessoa hoje faz um excelente trabalho. O Gerônimo. Apresenta-se todas as terças feiras na escadaria da Igreja do Passo. Faz um excelente trabalho musical, convida os melhores músicos e gente nova. Começou com meia dúzia de gatos pingados assistindo e hoje consegue preencher toda a escadaria, sem auxilio da imprensa, mas pela qualidade do trabalho". (Neguinho do Samba - em entrevista)

O show “O Pagador de Promessa” é organizado por Gerônimo desde 2002. Neste encontro musical, o artista toca suas composições e abre espaço para outros artistas se apresentarem. Atualmente este está sendo o principal projeto do músico que não conta, segundo o mesmo, com patrocínio ou apoio.

Em entrevista Gerônimo afirma que sua vida artística começou no Pelourinho. Além de ter morado no Centro Histórico, em 1979 e depois entre 1981 a 1985, sua música “Eu sou negão” torna-se, em 1987, um manifesto afro dos “guetos” como Pelô e Liberdade. Neste período Caetano também cantava “Eu sou neguinha?”. Segundo Gerônimo, “o que estava em jogo naquele momento era a luta pelo respeito às manifestações negras. E a gente não queria isso só no carnaval não”.

Gerônimo Santana Duarte foi músico do trio elétrico Dodô e Osmar, na década de 1970, tocou e saiu no Afoxé Filhos de Gandhi durante alguns anos e, assim como muitos artistas baianos nos anos 1980, também misturou a musica caribenha com o ijexá do candomblé em suas composições.

Segundo Gerônimo, a movimentação cultural no Pelourinho não tinha tanta força como tem hoje, as manifestações culturais eram espontâneas. Foi com os ensaios dos blocos afros que se começou a organizar uma agenda cultural do Pelourinho, atraindo uma população que antes não freqüentava a área.
A imagem, retirada do site http://www.musicapopular.org/, é do primeiro albúm do artista, lançado em 1983.

Resultado da enquete

Ao lado podemos ver o resultado da primeira enquete sobre o Pelourinho. Perguntei sobre a frequencia em que os visitantes deste Blog iam ao Centro Histórico. Das 32 pessoas que responderam, metade (16) afirmam que vão ao Pelorourinho 1 a 2 vezes por ano. Considerando que a maioria dos visitantes do Blog são soteropolitanos este número não é nada animador... Poucos em Salvador frequentam o Centro Histórico como espaço de lazer, apesar de termos neste local uma programação cultural intensa e que não se resume a ofertas para turistas. Parece que o que nos falta é mesmo hábito de ir ao Pelourinho.

Da enquete temos 2 pessoas que moram no Centro Histórico e 3 que diariamente (ou quase) vão lá. 6 afirmaram que de 1 a 2 vezes por semana dão uma passadinha pelo Pelô e mais 5 que aparecem de 1 a 2 vezes por mês... Ninguém respondeu que nunca foi ao Pelourinho - ou seja, preciso divulgar mais o blog entre os turistas!

Boa Imagem [julho]


Durante o mês de julho vimos o Pelourinho sob a perspectiva do fotógrafo português Da Maia Nogueira. Em seu blog podemos conferir registros de espetáculos teatrais e, sobretudo, de muitas viagens. Visite: http://www.flickr.com/photos/maianogueira

sábado, 26 de julho de 2008

Batatinha

Oscar da Penha, mais conhecido como Batatinha, nascido em 1924, foi criado no Centro Histórico, sendo este local referência também de diversos sambas que compôs.

A particularidade da obra deste sambista está em introduzir elementos da cultura local em suas canções. Elementos da capoeira, da culinária tornaram-se propostas estéticas, misturando melodias, danças e receitas da cultura afro. Canções como Olha aí, O Vatapá, Samba e Capoeira, O que é que há, Iaiá no Samba, Receita de Feijoada e Doutor Cobrador, são algumas que retratam o ambiente do Pelourinho.

Batatinha, durante os anos 1950, participou de concursos de composição para o carnaval de Salvador, promovidos pela Rádio Sociedade. Nunca ganhou em tais concursos, mas seus sambas faziam sucesso no carnaval.

Em 1960, ele perdeu mais um desses concursos com a composição Diplomacia cantada por Humberto Reis. O samba, entretanto, entrou na trilha sonora do primeiro filme de Glauber Rocha, “Barravento”. Nesse mesmo ano, Batatinha começa a ser reconhecido pela crítica especializada depois que o sambista carioca Jamelão gravou Jajá da Gamboa.

Esse fato chama a atenção dos intérpretes para o talentoso compositor negro baiano. Maria Bethânia seria o primeiro grande nome da MPB a lhe dar vez, gravando, em 1964, os sambas Diplomacia, Toada da Saudade, Imitação e a Hora da Razão nos shows do Teatro Opinião e no show do álbum "Rosa dos Ventos". Depois, ela gravaria ainda a marcha A História do Circo. Em 1966, o sambista baiano Ederaldo Gentil o convida para musicar a peça teatral "Pedro Mico" de Antônio Callado. Ele compôs ainda o samba Espera que foi gravado pela cantora maranhense Alcione. (www.facom.ufba.br/musicanordestina/batata)

Em 1973, os sambistas Riachão e Batatinha (aos 49 anos) dividem o LP “Samba da Bahia”, gravado no Teatro Vila Velha por iniciativa de Paulo Lima e Edil Pacheco. Neste disco estão os sambas-canção Diplomacia, Ministro do samba, Inventor do Trabalho e o Direito de Sambar. Em 1976, Batatinha grava seu único álbum-solo, “Toalha de Saudade”.

Batatinha viveu na pobreza, mesmo assim o sambista incentivou e promoveu diversos eventos ligados ao gênero, como a "Segunda do Samba" e o "Dia do Samba", realizados no Largo do Santo Antônio e do Terreiro, respectivamente.

Faleceu no ano de 1997, tendo registrado apenas dois álbuns em toda sua trajetória artística. Como obras póstumas foram gravados os álbuns “Diplomacia” e “Batatinha - 50 anos de Samba”.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Mestre Curió


Jânio Martins dos Santos, o Mestre Curió nasceu em 1937, em Candeias, interior da Bahia e desde os seis anos de idade pratica a Capoeira de Angola. Em Salvador deu aulas na Escola de Capoeira Angola Irmãos Gêmeos do Mestre Curió, no Pelourinho, e no Instituto Araketu. Já foi também dirigente da Associação Brasileira de Capoeira Angola.

Na Capoeira de Angola, além da técnica dos golpes e movimentos, é de fundamental importância a transmissão de valores essenciais, como a humildade e o respeito. E é nesse sentido que Mestre Curió vem desenvolvendo um trabalho com crianças da comunidade de Colina do Mar, localizada no Subúrbio Ferroviário. Veja a entrevista do Mestre, publicada na revista Viva Salvador da Fundação Gregório de Mattos, em 2005:

"A capoeira foi criada como dança, como movimento de defesa. Nunca encarei a capoeira como atividade marginal, mas como uma forma de arte. O capoeirista é o artista do nosso povo, do povo negro. E o artista negro ainda sofre uma opressão silenciosa em Salvador. Enfrentei muitas dificuldades desde criança, mas nem por isso me marginalizei. Hoje ajudo a tirar crianças da marginalidade. Quando você pega uma criança, e mostra a ela o valor da cultura negra, ensina uma ocupação, uma arte, o resultado é uma satisfação. Não existe maior recompensa do que quando você tem uma criança infratora, por exemplo, e ajuda a tirá-la do mundo das drogas."
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Esta semana foi realizada em Salvador uma homenagem à capoeira e o lançamento da proposta do registro da Roda de Capoeira no Livro das Formas de Expressão e do Ofício dos Mestres de Capoeira no Livro de Saberes.
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.: Saiba mais no portal www.portalcapoeira.com/

domingo, 13 de julho de 2008

Lembrança



Aviso aos visitantes deste blog que no dia 15 de julho, ou seja, até terça-feira desta semana, encerram as votações do concurso Redes-cobrindo o Pelô, promovido pelo IPAC.

O Blog 15 mistérios é um dos participantes. Para votar nele vocês devem enviar um email para voteblogs@gmail.com, e no assunto colocar "15 mistérios". Para conhecer outros blogs concorrentes www.redescobrindoopelo.blogspot.com.

.: Imagem criada a partir de www.humancalendar.com/

sábado, 12 de julho de 2008

Filhos de Gandhi


O Afoxé Filhos de Gandhi surgiu em 1949, sob organização de um grupo de estivadores que decidiram homenagear o líder pacifista Mahatma Gandhi, que havia falecido no ano anterior, com um bloco de carnaval que pregasse a paz. Em suas vestimentas de cores branca e azul (que lembram a indumentária indiana), turbantes, guias e perfume de alfazema, estão simbolizados Oxalá (branco) e Ogum (azul).

Foi, sobretudo, o Filhos de Gandhi que popularizou o ritmo do afoxé. No bloco só saem homens, pois, segundo Agnaldo Silva, presidente do Afoxé, como na época de sua formação só saíam trabalhadores da estiva portuária, então a participação das mulheres estava na confecção das roupas e turbantes. Até hoje são mulheres artesãs que costuram os turbantes em cada cabeça do associado. São mais de cinco mil associados. Durante muito tempo no Afoxé só se viam negros, no entanto, esta não é uma posição ideológica, tal como no llê Ayê, mas uma conseqüência do preconceito social e racial. Atualmente a quantidade de brancos, e inclusive turista que desfilam no bloco é grande.

O Bloco sai no domingo, segunda e terça do carnaval. Ao longo do ano são realizados ensaios além da organização de alguns projetos como o Gandhi Mirim, seguindo uma atuação como a do Olodum, com aulas de artesanato, teatro, ritmos e dança para crianças.

Filhos de Gandhi (Gilberto Gil)

Omolu, Ogum, Oxum, Oxumaré, todo o pessoal
Manda descer pra ver Filhos de Gandhi
Iansã, Iemanjá, chama Xangô, Oxossi também
Manda descer pra ver Filhos de Gandhi
Mercador, Cavaleiro de Bagdá
Oh, Filhos de Obá
Manda descer pra ver Filhos de Gandhi
Senhor do Bonfim, faz um favor pra mim
Chama o pessoal
Manda descer pra ver Filhos de Gandhi
Oh, meu Deus do céu, na terra é carnaval
Chama o pessoal
Manda descer pra ver Filhos de Gandhi


.: Foto retirada de http://superficialcomoumespinho.blogspot.com/

terça-feira, 8 de julho de 2008

A Mulher de Roxo


Uma mulher, vestida de roxo, com roupas longas, mantas compridas, um grande crucifixo e uma Bíblia na mão tornou-se um mito popular do Centro Histórico nos anos 1970. Sua vestimenta, seus acessórios e o modo como ficava nas ruas – sentada, sem conversar ou pedir esmola – suscitava na imaginação dos que a viam o ar de uma mendiga, de uma santa ou de uma louca. A mulher de roxo ficava próximo à loja Slopper, na Rua Chile, local onde as damas da sociedade baiana se reuniam para comprar roupas.

Alguns afirmam que ela se chamava Doralice, outros Florinda. Alguns afirmavam que ela ganhava as roupas da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, outros que ela mesma costurava retalhos roxos e transformava-os em vestidos. Estórias sobre a vida e o por que daquela mulher está nas ruas está presente em livros, contos publicados em jornais e até em vídeo.

Segundo Anísio Félix, a Mulher de Roxo “apareceu nos anos 1960 na zona do Pelourinho, exatamente na casa de número 6 da Rua Gregório de Mattos, em um bordel conhecido como Buraco Doce. Ela era uma mulher muito bonita, cabelos negros longos, vestidos caros e jóias” (FÉLIX, 1995, p. 101). Depois passou a morar nas ruas.

Em alguns momentos a Mulher de Roxo perambulava pelo Centro Histórico vestida de noiva, com buquê, véu e grinalda. Com isso surgiu a lenda de que havia sido abandonada no altar, ou que era uma ex-freira expulsa por causa de um namorado, ou que tinha um filho que a rejeitava, que já havia sido muito rica, que era professora, e por tudo ou nada disso, tinha enlouquecido. Nada se sabe. O que se tem certeza é que em 1993 e por alguns anos a Mulher de Roxo esteve internada no Hospital Santo Antonio, organização das Obras Sociais de Irmã Dulce.
.: Foto retirada de http://blogdogutemberg.blogspot.com/ [neste blog tem também uma matéria sobre a mulher de roxo!]

sábado, 5 de julho de 2008

Terça da Bênção

A Terça da Bênção é um marco na história recente do Pelourinho. Surge espontaneamente e se torna uma festa popular semanal.

Historiadores indicam que ela começa em 1950, no dia da bênção da Igreja de São Francisco, ou seja, na terça-feira, quando eram distribuídos pães aos presentes que se multiplicavam a cada dia. Daí, criou-se o hábito de “tomar uma cerveja” após a missa de terça.

Entre 1970 e 1990 a Terça da Bênção se transforma num grande evento realizado nas ruas do Centro Histórico. Surgem as primeiras barracas – cujo comércio era, sobretudo, feito por moradores do local – e os bares de reggae. Com a visibilidade recém-adquirida dos blocos afros, principalmente do Ilê Ayê, o Centro Histórico passa a atrair a população de Salvador como um todo.

A Terça da Bênção caracteriza-se pela diversidade de opções e lugares e a infusão Cravinho era a grande pedida. Experimente!

Boa Imagem [junho]


Esta foi a primeira fotografia da seção Boa Imagem. O autor é Fernando Pinheiro, mineiro, formado em Artes Visuais, técnico em cinema, realizador da animação A Garota. A fotografia acima foi feita em 2007 quando Fernando veio a Salvador participar da Jornada de Cinema.

Para conhecer mais um pouquinho do trabalho deste artista visite o site http://www.agarota.com/.

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Cravinho

O Centro Histórico atualmente é reconhecido pela gastronomia que é possível encontrar em seu espaço, seja típica, exótica, regional ou internacional. Além disso, o Pelourinho guarda a tradição, comum em diversos municípios do interior baiano, de comercializar infusões, que são misturas de ervas curtidas com cachaça. O Cravinho é uma dessas iguarias sendo produzido com cravo e curtido durante duas a três semanas num barril de cachaça, até o momento de retirar o sumo e servi-lo com mel e limão.

Contam alguns moradores que o Cravinho foi inventado junto com a Terça da Bênção. A bebida passa a ser característica desta festa, sendo servida em diversos bares, barracas e por ambulantes. Segundo Clarindo Silva, que como tantos outros reivindica a autoria da infusão, o Cravinho já foi até exportado para Portugal.

Um dos lugares mais conhecidos de venda desta e de outras infusões é o Bar do Cravinho, que fica no Terreiro de Jesus, nº 3.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Dois de Julho


O Dois de Julho comemora a luta pela Independência da Bahia em 1823, um ano depois do sete de setembro, quando definitivamente se interrompe com o processo de colonização de Portugal no Brasil. O festejo do Dois de Julho relembra, sobretudo, a presença do povo baiano nessa luta – nas figuras do caboclo e da cabocla que significam homem e mulher da terra. As imagens datam de 1845 (caboclo) e 1826 (cabocla) e, na Bahia, adquirem uma dimensão simbólica chegando a ser cultuados pela população.

A festa do Dois de Julho é uma manifestação cívica e popular. Envolve a participação de diversas entidades, grupamentos militares, políticos e folclóricos, além da presença de bandas, fanfarras, e de carros alegóricos dos dois caboclos. As comemorações se iniciam no dia 25 de junho, com o encontro, na cidade de Cachoeira, entre o caboclo e a cabocla (que vem de São Félix). É desta mesma cidade que parte o Fogo Simbólico, conduzido por vários atletas, passando por outros municípios do estado, como Santo Amaro da Purificação, São Francisco do Conde, Candeias e Simões Filho, até chegar em Salvador, no bairro de Pirajá.

Na capital, o desfile passa pelos bairros de Pirajá, Lapinha, Centro Histórico e Campo Grande. No território do Centro Histórico o cortejo passa pelo Santo Antonio, Carmo, Boqueirão, Soledade e Terreiro de Jesus. É ainda celebrado um “te deum” na Catedral Basílica. Até o dia 05 de julho o caboclo e a cabocla ficam na Praça Dois de Julho, no Campo Grande, quando, à noite, é realizada a volta dos caboclos para o “Panteon da Liberdade”, localizado no Largo da Lapinha, onde os carros ficam guardados ao longo do ano. Os carros são levados, correndo, e em festa, por diversas pessoas até o local.

No retorno à Lapinha, as imagens voltam carregadas de pedidos, orações, oferendas, flores e presentes. O caboclo e a cabocla provocam curiosidade, veneração e até superstição nos baianos que cantam, festejam e fazem pedidos durante o cortejo. Conta a tradição que se o andor que conduz os dois caboclos for tocado com fé e o fiel levar a mão à testa, o pedido se concretiza. Este é o motivo de tantas lembranças nas carroças.

A festa reúne cerca de 300 mil moradores e visitantes da cidade, anualmente. É organizada pela Prefeitura através da Fundação Gregório de Mattos (órgão municipal responsável pela política cultural de Salvador). No entanto, a população se apropria da festa, rompe com a organização e se integra ao desfile. As fachadas das casas localizadas no trajeto do cortejo são decoradas nas cores verde e amarela, diversos índios aparecem ao longo do percurso sejam crianças, adultos e travestis, fazendo com que a participação popular seja atração à parte do festejo.

No dia 26 de junho de 2006 a festa do Dois de Julho foi registrada no Conselho Estadual de Cultura como Patrimônio Imaterial da Bahia por representar a identidade cultural do estado.

Hino:
Nasce o sol a Dois de Julho
Brilha mais que o primeiro
É sinal que neste dia
Até o Sol é brasileiro

Nunca mais o despotismo
Regerá nossas ações
Com tiranos não combinam
Brasileiros corações

Cresce, Oh! Filho de minh’alma
Para a Pátria defender
O Brasil já tem jurado
Independência ou morrer

Salve, Oh! Rei das Campinas
De Cabrito a Pirajá
Nossa Pátria, hoje livre,
Dos tiranos não será!

domingo, 29 de junho de 2008

Batida do Olodum

Quando andamos pelo Pelourinho numa terça-feira e passamos pela Praça Tereza Batista, ouvimos o inconfundível toque de Olodum. O que é esta batida que fez tanto sucesso, e que inspirou a formação de diferentes blocos afros como Timbalada, Muzenza, Ara Ketu, Banda Feminina Didá e outros?

No toque do samba-reggae do Olodum podem-se observar influências musicais tanto de Salvador e do Rio de Janeiro como do Caribe, mais especificamente da ilha República Dominicana.

Para a “batida” do Olodum são utilizados como instrumentos um grupo de surdos, que marcam a parte das graves da “orquestra” de tambores, e as caixas, que fazem a parte de chamadas e padrões. Esta orquestração vem do samba batucada ou de enredo que é muito utilizada no carnaval carioca. A particularidade é que o padrão rítmico dos surdos estabelece uma fusão do samba batucada com o ritmo do merengue da ilha caribenha. O ritmo do merengue é tocado numa velocidade muito mais lenta pelos surdos. As caixas tocam, entre outros, um padrão rítmico que podemos ouvir num toque de candomblé de nação Ketu, chamado arramunha ou avamunha, onde é executado pelo gã (ou agogô). A clave do som cubano também tem este padrão rítmico. As caixas de repique fazem variações com golpes dobrados com as baquetas. Sobre o toque dos tambores, os cantores entoam seus versos e esta foi a fórmula que fez sucesso nos anos 1980. Mais tarde os blocos passam a utilizar outros instrumentos como instrumentos de sopro e um sintetizador.

.: Contribuiu para este texto o etnomusicólogo Yukio Agerkop.

terça-feira, 24 de junho de 2008

Jecilda e AMACH


Moradora do Centro Histórico desde 1997, Jecilda Melo acompanhou o processo de desocupação do Centro Histórico, coordenado pela CONDER, a partir de 1991. Em 1997 foi iniciada a sexta etapa (só finalizada em 2004) que previa a restauração de 115 imóveis.

A nova utilização dos imóveis seria, basicamente, para o comércio. A intervenção feita pelo projeto do governo do estado não englobava ações para a memória, as expressões culturais e as atividades desenvolvidas pelos residentes do local. Até mesmo serviços básicos em um bairro residencial, como farmácias e padarias, no Pelourinho são quase inexistentes. Com isso, em 2002 surgiu a AMACH – Associação de Moradores e Amigos do Centro Histórico, que reivindica, entre outras questões, a garantia de permanência dos moradores do CHS e a sua revitalização enquanto espaço social, e não apenas turístico.

Jecilda, líder comunitária e representante da AMACH, tem trabalhado e reivindicado pela permanência da população no Pelourinho. Em entrevista ela afirma:

Nesse processo de revitalização, estamos, com a Associação, tentando fazer um trabalho dentro da comunidade, para que a exclusão social seja banida, e que as vidas voltem a ser revitalizadas, e que nós possamos ficar aqui dentro do Centro Histórico, de uma forma onde a nossa auto-estima (...) Os moradores são aqueles que permanecem onde a cultura pode ser revitalizada todos os dias, independente de movimentos, de governos, a vida humana tem que ser um ponto fundamental em qualquer obra. (...) E nós aqui da AMACH, como moradores, queremos mudar, na briga, no grito, com denúncia, de que existe gente, existe vida, e que nós merecemos respeito. E dentro desse respeito estamos buscando parceiros para mudar a qualidade de vida das pessoas que aqui residem, com qualificação, capacitação profissional, e que eles possam se inserir no mercado de trabalho em qualquer área, não só no Centro Histórico.

A partir de 2003, o projeto de restauração do Pelourinho passou por uma importante modificação, decorrente de uma ação da AMACH junto ao Ministério Público. Na área das obras da sétima etapa, 103 famílias serão realocadas. Elas residirão em edifícios transformados em apartamentos de um, dois e três dormitórios, com áreas de 26 a 55 m2.

A sede da AMACH fica na Rua do Bispo, 24, Edf. Ipe, sala 102 - Pelourinho

.: imagem retirada de http://www.misticismo.blogger.com.br/

Sociedade Protetora dos Desvalidos

No ano de 1827 um grupo de 19 homens negros livres criou uma instituição que tinha como propósito angariar e poupar recursos financeiros de seus associados para comprar alforrias. Como na época negros e mestiços eram impossibilitados de formalizar uma associação civil, a Sociedade Protetora dos Desvalidos foi criada como Irmandade de Nossa Senhora da Soledade Amparo dos Desvalidos da Capela de Nossa Senhora do Rosário dos Quinze Mistérios. Apenas em 1851 os negros puderam registrá-la como instituição civil.

A Sociedade Protetora dos Desvalidos recebia contribuições dos associados e funcionava como Casa de Empréstimos a Juros operando com penhor, hipoteca de imóveis e loterias, prestando serviços hoje denominados como Previdência, Assistência Social, Pecúlio e Fomento Econômico e Social.

Funcionando desde 1883 até hoje no mesmo sobrado no Largo do Cruzeiro de São Francisco, a Sociedade foi responsável pela alforria de negros escravos e fujões e luta por políticas abolicionistas. Atualmente a SPD está desenvolvendo projetos de apoios sociais e culturais, através do Centro Cultural Manoel Raimundo Querino, sob o slogan “A nova alforria é a cultura”. Pretende-se oferecer seminários, conferências, aulas de programas de reciclagens profissionais e cursos profissionalizantes.

.: imagem retirada de http://flows.wordpress.com/2006/06/

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Eletrocooperativa

A Eletrocooperativa atua desde 2003 no Pelourinho formando jovens de famílias de baixa renda para o mercado musical profissional. Através da Inclusão Musical os participantes têm acesso a programas de ponta de produção musical, composição, arranjo, gravação, edição e masterização. Além de aprenderem técnicas de DJ, teoria musical, canto, webdesign, entre outras, esses jovens também desenvolvem noções de cidadania, empreendedorismo e educação financeira. Segundo site da ONG, já foram produziram 18 CDs, formadas cinco bandas e muitos ex-alunos já trabalham como músicos, produtores e DJs.

O diferencial da Eletrocooperativa é a Usina da Produção, uma produtora e uma difusora nas quais os jovens formados prestam serviços a empresas e instituições governamentais e assim aprendem a gerir sua própria renda, aplicar em poupança e investir no longo prazo. A Usina representa a primeira oportunidade de trabalho real para muitos desses jovens.

Alem de formar profissionais na área da música, a Eletrocooperativa também registra e difunde a música jovem urbana através da distribuição e divulgação das obras via Internet, utilizando o conceito de generosidade intelectual e tendo como suporte a licença do creative commons. Viste o portal: http://www.eletrocooperativa.art.br/ e conheça mais de seu trabalho.


domingo, 22 de junho de 2008

Eliza do Carneiro

Na década de 70 um carneiro era presença contínua na rua João de Deus, bairro do Maciel de Baixo. Ele ficava na porta da casa de número 19 (hoje Escola Didá), onde morava Eliza.

Eliza era vigiada pela Delegacia de Jogos e Costumes por venda de maconha, mas durante algum tempo despistou a polícia usando um carneiro. Primeiro Eliza escondia o produto entre as pedras e buracos do calçamento do Centro Histórico e então amarrava o carneiro na porta. O animal era solto quando precisava indicar aos clientes onde estava a maconha, fuçando o local exato. O truque deu certo durante algum tempo até que os policiais descobriram e prenderam Eliza e também o carneiro.

Nos anos 90, segundo relatos, Eliza passou a vender bebida na Terça da Bênção. Do carneiro, no entanto, nunca mais se teve notícia...

Mestre Prego

Mestre Prego é professor e maestro de percussão da Escola Meninos do Pelô, fundada por ele em 1986, que já formou músicos que hoje em dia tocam com Daniela Mercury, com o Grupo Terra Samba e É o Tchan. Seus alunos são, sobretudo, filhos de moradores do Centro Histórico. A compra e manutenção de instrumentos, o transporte e a alimentação para as crianças são responsabilidades de Mestre Prego.

Foi a partir da experiência como diretor da Banda Mirim do Olodum, entre 1975 e 1976, que Mestre Prego decidiu criar a Escola Meninos do Pelô. Além do Olodum, Mestre Prego já fez parte de outros blocos e afoxés como o Ilê Ayê, Comanches do Pelô, Filhos de Gandhi e Alvorada, sempre como percusionista. Tocou ainda no Alabê, Ébano, Arca de Olorum, Epualê, Troça Africana, todos blocos afros criados no Centro Histórico. Em blocos carnavalescos, Prego participou do Vai Levando, Patota, Lords, Corujas e Internacionais.

Os ensaios do Meninos do Pelô acontecem na Ladeira do Maciel, próximo ao Teatro XVIII. Passando por lá quem sabe você consegue assistir a uma aula-espetáculo!

Rocinha do Pelô

Localizada na Rua Alfredo de Brito, número 16, atrás da antiga Faculdade de Medicina, na Rocinha moram mais de 60 famílias de baixa renda. "Embora situado em pleno centro histórico, no local o esgoto corre a céu aberto e a energia elétrica apenas há pouco vem substituindo progressivamente os 'gatos'" (Fonte - Agecom).

Figuras como Neínho, Ruth e Alumínio movimentam a Rocinha com seus bares, sinucas e organização de shows. Segundo esses agitores, este é o lugar ideal para escutar Reggae, Hip-Hop, Roots e outros ritmos “undergrounds”. Poucos em Salvador conhecem a Rocinha, sendo um ponto frequentado sobretudo pela comunidade do Centro Histórico e de bairros vizinhos.

Filhos do Korin-Efan

Em iorubá Korin significa “cântico” e Efan “terra de ijexá”. O Afoxé Korin-Efan surgiu em 1992, como uma dissidência do Filhos de Gandhi, sendo Djalma Passos seu primeiro presidente. Ao longo dos anos, porém, as atividades do Afoxé foram minguando e, por esta razão, em 25 de maio de 2002, Erenilton (foto) funda o Filhos do Korin-Efan.

O Afoxé Filhos do Korin-Efan é de todos os orixás, o que permite ser também de todas as cores. Nas paredes da quadra – espaço reservado para realização de ensaios e eventos – podemos ver a representação de muitos deles.

A principal geração de renda do Afoxé vem dos ensaios (com a venda de ingressos, de comida e bebida). Parcerias com outras entidades, venda de cds e cortejo no carnaval são formas alternativas de arrecadação de recursos.

O Filhos de Korin-Efan ensaia todo domingo, cobrando o valor de R$ 1,00 de bilheteria. Ereniton deseja também realizar seresta e bailes da terceira idade nas segundas e terças-feiras e formar uma banda mirim.

Para visitar ou curtir o Afoxé: Rua do passo nº26