sábado, 26 de julho de 2008

Batatinha

Oscar da Penha, mais conhecido como Batatinha, nascido em 1924, foi criado no Centro Histórico, sendo este local referência também de diversos sambas que compôs.

A particularidade da obra deste sambista está em introduzir elementos da cultura local em suas canções. Elementos da capoeira, da culinária tornaram-se propostas estéticas, misturando melodias, danças e receitas da cultura afro. Canções como Olha aí, O Vatapá, Samba e Capoeira, O que é que há, Iaiá no Samba, Receita de Feijoada e Doutor Cobrador, são algumas que retratam o ambiente do Pelourinho.

Batatinha, durante os anos 1950, participou de concursos de composição para o carnaval de Salvador, promovidos pela Rádio Sociedade. Nunca ganhou em tais concursos, mas seus sambas faziam sucesso no carnaval.

Em 1960, ele perdeu mais um desses concursos com a composição Diplomacia cantada por Humberto Reis. O samba, entretanto, entrou na trilha sonora do primeiro filme de Glauber Rocha, “Barravento”. Nesse mesmo ano, Batatinha começa a ser reconhecido pela crítica especializada depois que o sambista carioca Jamelão gravou Jajá da Gamboa.

Esse fato chama a atenção dos intérpretes para o talentoso compositor negro baiano. Maria Bethânia seria o primeiro grande nome da MPB a lhe dar vez, gravando, em 1964, os sambas Diplomacia, Toada da Saudade, Imitação e a Hora da Razão nos shows do Teatro Opinião e no show do álbum "Rosa dos Ventos". Depois, ela gravaria ainda a marcha A História do Circo. Em 1966, o sambista baiano Ederaldo Gentil o convida para musicar a peça teatral "Pedro Mico" de Antônio Callado. Ele compôs ainda o samba Espera que foi gravado pela cantora maranhense Alcione. (www.facom.ufba.br/musicanordestina/batata)

Em 1973, os sambistas Riachão e Batatinha (aos 49 anos) dividem o LP “Samba da Bahia”, gravado no Teatro Vila Velha por iniciativa de Paulo Lima e Edil Pacheco. Neste disco estão os sambas-canção Diplomacia, Ministro do samba, Inventor do Trabalho e o Direito de Sambar. Em 1976, Batatinha grava seu único álbum-solo, “Toalha de Saudade”.

Batatinha viveu na pobreza, mesmo assim o sambista incentivou e promoveu diversos eventos ligados ao gênero, como a "Segunda do Samba" e o "Dia do Samba", realizados no Largo do Santo Antônio e do Terreiro, respectivamente.

Faleceu no ano de 1997, tendo registrado apenas dois álbuns em toda sua trajetória artística. Como obras póstumas foram gravados os álbuns “Diplomacia” e “Batatinha - 50 anos de Samba”.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Mestre Curió


Jânio Martins dos Santos, o Mestre Curió nasceu em 1937, em Candeias, interior da Bahia e desde os seis anos de idade pratica a Capoeira de Angola. Em Salvador deu aulas na Escola de Capoeira Angola Irmãos Gêmeos do Mestre Curió, no Pelourinho, e no Instituto Araketu. Já foi também dirigente da Associação Brasileira de Capoeira Angola.

Na Capoeira de Angola, além da técnica dos golpes e movimentos, é de fundamental importância a transmissão de valores essenciais, como a humildade e o respeito. E é nesse sentido que Mestre Curió vem desenvolvendo um trabalho com crianças da comunidade de Colina do Mar, localizada no Subúrbio Ferroviário. Veja a entrevista do Mestre, publicada na revista Viva Salvador da Fundação Gregório de Mattos, em 2005:

"A capoeira foi criada como dança, como movimento de defesa. Nunca encarei a capoeira como atividade marginal, mas como uma forma de arte. O capoeirista é o artista do nosso povo, do povo negro. E o artista negro ainda sofre uma opressão silenciosa em Salvador. Enfrentei muitas dificuldades desde criança, mas nem por isso me marginalizei. Hoje ajudo a tirar crianças da marginalidade. Quando você pega uma criança, e mostra a ela o valor da cultura negra, ensina uma ocupação, uma arte, o resultado é uma satisfação. Não existe maior recompensa do que quando você tem uma criança infratora, por exemplo, e ajuda a tirá-la do mundo das drogas."
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Esta semana foi realizada em Salvador uma homenagem à capoeira e o lançamento da proposta do registro da Roda de Capoeira no Livro das Formas de Expressão e do Ofício dos Mestres de Capoeira no Livro de Saberes.
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.: Saiba mais no portal www.portalcapoeira.com/

domingo, 13 de julho de 2008

Lembrança



Aviso aos visitantes deste blog que no dia 15 de julho, ou seja, até terça-feira desta semana, encerram as votações do concurso Redes-cobrindo o Pelô, promovido pelo IPAC.

O Blog 15 mistérios é um dos participantes. Para votar nele vocês devem enviar um email para voteblogs@gmail.com, e no assunto colocar "15 mistérios". Para conhecer outros blogs concorrentes www.redescobrindoopelo.blogspot.com.

.: Imagem criada a partir de www.humancalendar.com/

sábado, 12 de julho de 2008

Filhos de Gandhi


O Afoxé Filhos de Gandhi surgiu em 1949, sob organização de um grupo de estivadores que decidiram homenagear o líder pacifista Mahatma Gandhi, que havia falecido no ano anterior, com um bloco de carnaval que pregasse a paz. Em suas vestimentas de cores branca e azul (que lembram a indumentária indiana), turbantes, guias e perfume de alfazema, estão simbolizados Oxalá (branco) e Ogum (azul).

Foi, sobretudo, o Filhos de Gandhi que popularizou o ritmo do afoxé. No bloco só saem homens, pois, segundo Agnaldo Silva, presidente do Afoxé, como na época de sua formação só saíam trabalhadores da estiva portuária, então a participação das mulheres estava na confecção das roupas e turbantes. Até hoje são mulheres artesãs que costuram os turbantes em cada cabeça do associado. São mais de cinco mil associados. Durante muito tempo no Afoxé só se viam negros, no entanto, esta não é uma posição ideológica, tal como no llê Ayê, mas uma conseqüência do preconceito social e racial. Atualmente a quantidade de brancos, e inclusive turista que desfilam no bloco é grande.

O Bloco sai no domingo, segunda e terça do carnaval. Ao longo do ano são realizados ensaios além da organização de alguns projetos como o Gandhi Mirim, seguindo uma atuação como a do Olodum, com aulas de artesanato, teatro, ritmos e dança para crianças.

Filhos de Gandhi (Gilberto Gil)

Omolu, Ogum, Oxum, Oxumaré, todo o pessoal
Manda descer pra ver Filhos de Gandhi
Iansã, Iemanjá, chama Xangô, Oxossi também
Manda descer pra ver Filhos de Gandhi
Mercador, Cavaleiro de Bagdá
Oh, Filhos de Obá
Manda descer pra ver Filhos de Gandhi
Senhor do Bonfim, faz um favor pra mim
Chama o pessoal
Manda descer pra ver Filhos de Gandhi
Oh, meu Deus do céu, na terra é carnaval
Chama o pessoal
Manda descer pra ver Filhos de Gandhi


.: Foto retirada de http://superficialcomoumespinho.blogspot.com/

terça-feira, 8 de julho de 2008

A Mulher de Roxo


Uma mulher, vestida de roxo, com roupas longas, mantas compridas, um grande crucifixo e uma Bíblia na mão tornou-se um mito popular do Centro Histórico nos anos 1970. Sua vestimenta, seus acessórios e o modo como ficava nas ruas – sentada, sem conversar ou pedir esmola – suscitava na imaginação dos que a viam o ar de uma mendiga, de uma santa ou de uma louca. A mulher de roxo ficava próximo à loja Slopper, na Rua Chile, local onde as damas da sociedade baiana se reuniam para comprar roupas.

Alguns afirmam que ela se chamava Doralice, outros Florinda. Alguns afirmavam que ela ganhava as roupas da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, outros que ela mesma costurava retalhos roxos e transformava-os em vestidos. Estórias sobre a vida e o por que daquela mulher está nas ruas está presente em livros, contos publicados em jornais e até em vídeo.

Segundo Anísio Félix, a Mulher de Roxo “apareceu nos anos 1960 na zona do Pelourinho, exatamente na casa de número 6 da Rua Gregório de Mattos, em um bordel conhecido como Buraco Doce. Ela era uma mulher muito bonita, cabelos negros longos, vestidos caros e jóias” (FÉLIX, 1995, p. 101). Depois passou a morar nas ruas.

Em alguns momentos a Mulher de Roxo perambulava pelo Centro Histórico vestida de noiva, com buquê, véu e grinalda. Com isso surgiu a lenda de que havia sido abandonada no altar, ou que era uma ex-freira expulsa por causa de um namorado, ou que tinha um filho que a rejeitava, que já havia sido muito rica, que era professora, e por tudo ou nada disso, tinha enlouquecido. Nada se sabe. O que se tem certeza é que em 1993 e por alguns anos a Mulher de Roxo esteve internada no Hospital Santo Antonio, organização das Obras Sociais de Irmã Dulce.
.: Foto retirada de http://blogdogutemberg.blogspot.com/ [neste blog tem também uma matéria sobre a mulher de roxo!]

sábado, 5 de julho de 2008

Terça da Bênção

A Terça da Bênção é um marco na história recente do Pelourinho. Surge espontaneamente e se torna uma festa popular semanal.

Historiadores indicam que ela começa em 1950, no dia da bênção da Igreja de São Francisco, ou seja, na terça-feira, quando eram distribuídos pães aos presentes que se multiplicavam a cada dia. Daí, criou-se o hábito de “tomar uma cerveja” após a missa de terça.

Entre 1970 e 1990 a Terça da Bênção se transforma num grande evento realizado nas ruas do Centro Histórico. Surgem as primeiras barracas – cujo comércio era, sobretudo, feito por moradores do local – e os bares de reggae. Com a visibilidade recém-adquirida dos blocos afros, principalmente do Ilê Ayê, o Centro Histórico passa a atrair a população de Salvador como um todo.

A Terça da Bênção caracteriza-se pela diversidade de opções e lugares e a infusão Cravinho era a grande pedida. Experimente!

Boa Imagem [junho]


Esta foi a primeira fotografia da seção Boa Imagem. O autor é Fernando Pinheiro, mineiro, formado em Artes Visuais, técnico em cinema, realizador da animação A Garota. A fotografia acima foi feita em 2007 quando Fernando veio a Salvador participar da Jornada de Cinema.

Para conhecer mais um pouquinho do trabalho deste artista visite o site http://www.agarota.com/.

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Cravinho

O Centro Histórico atualmente é reconhecido pela gastronomia que é possível encontrar em seu espaço, seja típica, exótica, regional ou internacional. Além disso, o Pelourinho guarda a tradição, comum em diversos municípios do interior baiano, de comercializar infusões, que são misturas de ervas curtidas com cachaça. O Cravinho é uma dessas iguarias sendo produzido com cravo e curtido durante duas a três semanas num barril de cachaça, até o momento de retirar o sumo e servi-lo com mel e limão.

Contam alguns moradores que o Cravinho foi inventado junto com a Terça da Bênção. A bebida passa a ser característica desta festa, sendo servida em diversos bares, barracas e por ambulantes. Segundo Clarindo Silva, que como tantos outros reivindica a autoria da infusão, o Cravinho já foi até exportado para Portugal.

Um dos lugares mais conhecidos de venda desta e de outras infusões é o Bar do Cravinho, que fica no Terreiro de Jesus, nº 3.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Dois de Julho


O Dois de Julho comemora a luta pela Independência da Bahia em 1823, um ano depois do sete de setembro, quando definitivamente se interrompe com o processo de colonização de Portugal no Brasil. O festejo do Dois de Julho relembra, sobretudo, a presença do povo baiano nessa luta – nas figuras do caboclo e da cabocla que significam homem e mulher da terra. As imagens datam de 1845 (caboclo) e 1826 (cabocla) e, na Bahia, adquirem uma dimensão simbólica chegando a ser cultuados pela população.

A festa do Dois de Julho é uma manifestação cívica e popular. Envolve a participação de diversas entidades, grupamentos militares, políticos e folclóricos, além da presença de bandas, fanfarras, e de carros alegóricos dos dois caboclos. As comemorações se iniciam no dia 25 de junho, com o encontro, na cidade de Cachoeira, entre o caboclo e a cabocla (que vem de São Félix). É desta mesma cidade que parte o Fogo Simbólico, conduzido por vários atletas, passando por outros municípios do estado, como Santo Amaro da Purificação, São Francisco do Conde, Candeias e Simões Filho, até chegar em Salvador, no bairro de Pirajá.

Na capital, o desfile passa pelos bairros de Pirajá, Lapinha, Centro Histórico e Campo Grande. No território do Centro Histórico o cortejo passa pelo Santo Antonio, Carmo, Boqueirão, Soledade e Terreiro de Jesus. É ainda celebrado um “te deum” na Catedral Basílica. Até o dia 05 de julho o caboclo e a cabocla ficam na Praça Dois de Julho, no Campo Grande, quando, à noite, é realizada a volta dos caboclos para o “Panteon da Liberdade”, localizado no Largo da Lapinha, onde os carros ficam guardados ao longo do ano. Os carros são levados, correndo, e em festa, por diversas pessoas até o local.

No retorno à Lapinha, as imagens voltam carregadas de pedidos, orações, oferendas, flores e presentes. O caboclo e a cabocla provocam curiosidade, veneração e até superstição nos baianos que cantam, festejam e fazem pedidos durante o cortejo. Conta a tradição que se o andor que conduz os dois caboclos for tocado com fé e o fiel levar a mão à testa, o pedido se concretiza. Este é o motivo de tantas lembranças nas carroças.

A festa reúne cerca de 300 mil moradores e visitantes da cidade, anualmente. É organizada pela Prefeitura através da Fundação Gregório de Mattos (órgão municipal responsável pela política cultural de Salvador). No entanto, a população se apropria da festa, rompe com a organização e se integra ao desfile. As fachadas das casas localizadas no trajeto do cortejo são decoradas nas cores verde e amarela, diversos índios aparecem ao longo do percurso sejam crianças, adultos e travestis, fazendo com que a participação popular seja atração à parte do festejo.

No dia 26 de junho de 2006 a festa do Dois de Julho foi registrada no Conselho Estadual de Cultura como Patrimônio Imaterial da Bahia por representar a identidade cultural do estado.

Hino:
Nasce o sol a Dois de Julho
Brilha mais que o primeiro
É sinal que neste dia
Até o Sol é brasileiro

Nunca mais o despotismo
Regerá nossas ações
Com tiranos não combinam
Brasileiros corações

Cresce, Oh! Filho de minh’alma
Para a Pátria defender
O Brasil já tem jurado
Independência ou morrer

Salve, Oh! Rei das Campinas
De Cabrito a Pirajá
Nossa Pátria, hoje livre,
Dos tiranos não será!