domingo, 29 de junho de 2008

Batida do Olodum

Quando andamos pelo Pelourinho numa terça-feira e passamos pela Praça Tereza Batista, ouvimos o inconfundível toque de Olodum. O que é esta batida que fez tanto sucesso, e que inspirou a formação de diferentes blocos afros como Timbalada, Muzenza, Ara Ketu, Banda Feminina Didá e outros?

No toque do samba-reggae do Olodum podem-se observar influências musicais tanto de Salvador e do Rio de Janeiro como do Caribe, mais especificamente da ilha República Dominicana.

Para a “batida” do Olodum são utilizados como instrumentos um grupo de surdos, que marcam a parte das graves da “orquestra” de tambores, e as caixas, que fazem a parte de chamadas e padrões. Esta orquestração vem do samba batucada ou de enredo que é muito utilizada no carnaval carioca. A particularidade é que o padrão rítmico dos surdos estabelece uma fusão do samba batucada com o ritmo do merengue da ilha caribenha. O ritmo do merengue é tocado numa velocidade muito mais lenta pelos surdos. As caixas tocam, entre outros, um padrão rítmico que podemos ouvir num toque de candomblé de nação Ketu, chamado arramunha ou avamunha, onde é executado pelo gã (ou agogô). A clave do som cubano também tem este padrão rítmico. As caixas de repique fazem variações com golpes dobrados com as baquetas. Sobre o toque dos tambores, os cantores entoam seus versos e esta foi a fórmula que fez sucesso nos anos 1980. Mais tarde os blocos passam a utilizar outros instrumentos como instrumentos de sopro e um sintetizador.

.: Contribuiu para este texto o etnomusicólogo Yukio Agerkop.

terça-feira, 24 de junho de 2008

Jecilda e AMACH


Moradora do Centro Histórico desde 1997, Jecilda Melo acompanhou o processo de desocupação do Centro Histórico, coordenado pela CONDER, a partir de 1991. Em 1997 foi iniciada a sexta etapa (só finalizada em 2004) que previa a restauração de 115 imóveis.

A nova utilização dos imóveis seria, basicamente, para o comércio. A intervenção feita pelo projeto do governo do estado não englobava ações para a memória, as expressões culturais e as atividades desenvolvidas pelos residentes do local. Até mesmo serviços básicos em um bairro residencial, como farmácias e padarias, no Pelourinho são quase inexistentes. Com isso, em 2002 surgiu a AMACH – Associação de Moradores e Amigos do Centro Histórico, que reivindica, entre outras questões, a garantia de permanência dos moradores do CHS e a sua revitalização enquanto espaço social, e não apenas turístico.

Jecilda, líder comunitária e representante da AMACH, tem trabalhado e reivindicado pela permanência da população no Pelourinho. Em entrevista ela afirma:

Nesse processo de revitalização, estamos, com a Associação, tentando fazer um trabalho dentro da comunidade, para que a exclusão social seja banida, e que as vidas voltem a ser revitalizadas, e que nós possamos ficar aqui dentro do Centro Histórico, de uma forma onde a nossa auto-estima (...) Os moradores são aqueles que permanecem onde a cultura pode ser revitalizada todos os dias, independente de movimentos, de governos, a vida humana tem que ser um ponto fundamental em qualquer obra. (...) E nós aqui da AMACH, como moradores, queremos mudar, na briga, no grito, com denúncia, de que existe gente, existe vida, e que nós merecemos respeito. E dentro desse respeito estamos buscando parceiros para mudar a qualidade de vida das pessoas que aqui residem, com qualificação, capacitação profissional, e que eles possam se inserir no mercado de trabalho em qualquer área, não só no Centro Histórico.

A partir de 2003, o projeto de restauração do Pelourinho passou por uma importante modificação, decorrente de uma ação da AMACH junto ao Ministério Público. Na área das obras da sétima etapa, 103 famílias serão realocadas. Elas residirão em edifícios transformados em apartamentos de um, dois e três dormitórios, com áreas de 26 a 55 m2.

A sede da AMACH fica na Rua do Bispo, 24, Edf. Ipe, sala 102 - Pelourinho

.: imagem retirada de http://www.misticismo.blogger.com.br/

Sociedade Protetora dos Desvalidos

No ano de 1827 um grupo de 19 homens negros livres criou uma instituição que tinha como propósito angariar e poupar recursos financeiros de seus associados para comprar alforrias. Como na época negros e mestiços eram impossibilitados de formalizar uma associação civil, a Sociedade Protetora dos Desvalidos foi criada como Irmandade de Nossa Senhora da Soledade Amparo dos Desvalidos da Capela de Nossa Senhora do Rosário dos Quinze Mistérios. Apenas em 1851 os negros puderam registrá-la como instituição civil.

A Sociedade Protetora dos Desvalidos recebia contribuições dos associados e funcionava como Casa de Empréstimos a Juros operando com penhor, hipoteca de imóveis e loterias, prestando serviços hoje denominados como Previdência, Assistência Social, Pecúlio e Fomento Econômico e Social.

Funcionando desde 1883 até hoje no mesmo sobrado no Largo do Cruzeiro de São Francisco, a Sociedade foi responsável pela alforria de negros escravos e fujões e luta por políticas abolicionistas. Atualmente a SPD está desenvolvendo projetos de apoios sociais e culturais, através do Centro Cultural Manoel Raimundo Querino, sob o slogan “A nova alforria é a cultura”. Pretende-se oferecer seminários, conferências, aulas de programas de reciclagens profissionais e cursos profissionalizantes.

.: imagem retirada de http://flows.wordpress.com/2006/06/

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Eletrocooperativa

A Eletrocooperativa atua desde 2003 no Pelourinho formando jovens de famílias de baixa renda para o mercado musical profissional. Através da Inclusão Musical os participantes têm acesso a programas de ponta de produção musical, composição, arranjo, gravação, edição e masterização. Além de aprenderem técnicas de DJ, teoria musical, canto, webdesign, entre outras, esses jovens também desenvolvem noções de cidadania, empreendedorismo e educação financeira. Segundo site da ONG, já foram produziram 18 CDs, formadas cinco bandas e muitos ex-alunos já trabalham como músicos, produtores e DJs.

O diferencial da Eletrocooperativa é a Usina da Produção, uma produtora e uma difusora nas quais os jovens formados prestam serviços a empresas e instituições governamentais e assim aprendem a gerir sua própria renda, aplicar em poupança e investir no longo prazo. A Usina representa a primeira oportunidade de trabalho real para muitos desses jovens.

Alem de formar profissionais na área da música, a Eletrocooperativa também registra e difunde a música jovem urbana através da distribuição e divulgação das obras via Internet, utilizando o conceito de generosidade intelectual e tendo como suporte a licença do creative commons. Viste o portal: http://www.eletrocooperativa.art.br/ e conheça mais de seu trabalho.


domingo, 22 de junho de 2008

Eliza do Carneiro

Na década de 70 um carneiro era presença contínua na rua João de Deus, bairro do Maciel de Baixo. Ele ficava na porta da casa de número 19 (hoje Escola Didá), onde morava Eliza.

Eliza era vigiada pela Delegacia de Jogos e Costumes por venda de maconha, mas durante algum tempo despistou a polícia usando um carneiro. Primeiro Eliza escondia o produto entre as pedras e buracos do calçamento do Centro Histórico e então amarrava o carneiro na porta. O animal era solto quando precisava indicar aos clientes onde estava a maconha, fuçando o local exato. O truque deu certo durante algum tempo até que os policiais descobriram e prenderam Eliza e também o carneiro.

Nos anos 90, segundo relatos, Eliza passou a vender bebida na Terça da Bênção. Do carneiro, no entanto, nunca mais se teve notícia...

Mestre Prego

Mestre Prego é professor e maestro de percussão da Escola Meninos do Pelô, fundada por ele em 1986, que já formou músicos que hoje em dia tocam com Daniela Mercury, com o Grupo Terra Samba e É o Tchan. Seus alunos são, sobretudo, filhos de moradores do Centro Histórico. A compra e manutenção de instrumentos, o transporte e a alimentação para as crianças são responsabilidades de Mestre Prego.

Foi a partir da experiência como diretor da Banda Mirim do Olodum, entre 1975 e 1976, que Mestre Prego decidiu criar a Escola Meninos do Pelô. Além do Olodum, Mestre Prego já fez parte de outros blocos e afoxés como o Ilê Ayê, Comanches do Pelô, Filhos de Gandhi e Alvorada, sempre como percusionista. Tocou ainda no Alabê, Ébano, Arca de Olorum, Epualê, Troça Africana, todos blocos afros criados no Centro Histórico. Em blocos carnavalescos, Prego participou do Vai Levando, Patota, Lords, Corujas e Internacionais.

Os ensaios do Meninos do Pelô acontecem na Ladeira do Maciel, próximo ao Teatro XVIII. Passando por lá quem sabe você consegue assistir a uma aula-espetáculo!

Rocinha do Pelô

Localizada na Rua Alfredo de Brito, número 16, atrás da antiga Faculdade de Medicina, na Rocinha moram mais de 60 famílias de baixa renda. "Embora situado em pleno centro histórico, no local o esgoto corre a céu aberto e a energia elétrica apenas há pouco vem substituindo progressivamente os 'gatos'" (Fonte - Agecom).

Figuras como Neínho, Ruth e Alumínio movimentam a Rocinha com seus bares, sinucas e organização de shows. Segundo esses agitores, este é o lugar ideal para escutar Reggae, Hip-Hop, Roots e outros ritmos “undergrounds”. Poucos em Salvador conhecem a Rocinha, sendo um ponto frequentado sobretudo pela comunidade do Centro Histórico e de bairros vizinhos.

Filhos do Korin-Efan

Em iorubá Korin significa “cântico” e Efan “terra de ijexá”. O Afoxé Korin-Efan surgiu em 1992, como uma dissidência do Filhos de Gandhi, sendo Djalma Passos seu primeiro presidente. Ao longo dos anos, porém, as atividades do Afoxé foram minguando e, por esta razão, em 25 de maio de 2002, Erenilton (foto) funda o Filhos do Korin-Efan.

O Afoxé Filhos do Korin-Efan é de todos os orixás, o que permite ser também de todas as cores. Nas paredes da quadra – espaço reservado para realização de ensaios e eventos – podemos ver a representação de muitos deles.

A principal geração de renda do Afoxé vem dos ensaios (com a venda de ingressos, de comida e bebida). Parcerias com outras entidades, venda de cds e cortejo no carnaval são formas alternativas de arrecadação de recursos.

O Filhos de Korin-Efan ensaia todo domingo, cobrando o valor de R$ 1,00 de bilheteria. Ereniton deseja também realizar seresta e bailes da terceira idade nas segundas e terças-feiras e formar uma banda mirim.

Para visitar ou curtir o Afoxé: Rua do passo nº26